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OS ANOS 60: A SEMEADURA DA TRANSFORMAÇÃO
Novas trilhas se esboçam na busca da reinvenção de saídas para a Amazônia. No apagar das luzes dos anos 50, os anos dourados do país e de muita luta pela sobrevivência da economia regional, algumas ações do governo central foram importantes para mobilizar esforços locais de enfrentamento do novo esvaziamento do pós-guerra na economia gomífera, que custara a vida de levas sucessivas de nordestinos na reativação do ciclo da borracha. Uma delas, ainda rescaldo do obscuro Acordo de Washington, que trocou a indústria siderúrgica brasileira por preços vis de nossa borracha com os Estados Unidos, obrigou moralmente Getúlio Vargas na criação de um projeto de aproveitamento e valorização da região, com a criação da SPEVEA – Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia -, em 1953. É justo lembrar que a Constituição de 1946 contém em seu art. 119 os mecanismos legais para essa medida, por meio de uma emenda do Deputado pelo Amazonas, Constituinte na época, Leopoldo Péres. Além da criação do INPA, o projeto de Zona Franca, de autoria do deputado Francisco Pereira Sobrinho, homologado por Juscelino Kubitschek em 1959, no governo Gilberto Mestrinho, com ajuda do senador Arthur Virgílio Filho e do deputado federal Almino Afonso, no Congresso, representou uma semente de transformação que determinará grandes mudanças na economia e no desenvolvimento do Amazonas.
Teimosia local e apatia federal
O Estado do Amazonas dependia, então, do extrativismo e da cultura primitiva de alguns produtos de sua floresta para a sobrevivência de sua população. Algumas ações de inovação tecnológica, como a invenção do processo de manutenção química em estado líquido do látex, que permitia sua armazenagem em latões, inventados na Companhia Nacional de Borracha, sob a direção de Cosme Ferreira e superintendência de Petronio Augusto Pinheiro, vingavam pontualmente graças a esforços isolados de alguns visionários. A industrialização do guaraná, a juta, a malva… era preciso recomeçar e diversificar alternativas e soluções. Havíamos perdido novamente a disputa no fornecimento do látex com a reabertura dos mercados asiáticos da borracha. E nenhuma iniciativa nacional de monta apontava para racionalizar o cultivo racional da Hevea brasiliensis, como os ingleses fizeram na Malásia. O Brasil, atualmente ,tem excelente produtividade em experiências de cultivo racional de borracha, na Bahia e no Noroeste do Estado de São Paulo. Na Amazônia, entretanto, cem anos depois do sucesso comercial do cultivo extensivo em países dos trópicos úmidos asiáticos, carecemos de qualquer projeto bem sucedido no plantio racional de seringueiras. As experiências de empreendedores norte-americanos em Belterra e Fordlândia, que tentaram o cultivo extensivo das seringueiras na Amazônia, foram um fracasso científico e empresarial.
Os pupilos de Cosme Ferreira: Ribamar Siqueira e Petronio Pinheiro
Em Manaus, as empresas criadas por Cosme Ferreira tiveram o impulso e o empenho de dois amigos remanescentes do Colégio Dom Bosco, Petronio Augusto Pinheiro e José Ribamar Bentes Siqueira. Eles se encontraram no final da década de 30 e se mantiveram juntos, em todos os momentos das próprias vidas, no âmbito familiar, empresarial e profissional até a partida de Petronio. A dupla Petronio e Siqueira, que os amigos apelidavam de Categoria, foi para a Associação Comercial do Amazonas, como estafetas e lá conheceram Cosme Ferreira, que exercia a função de Diretor Técnico, um faz tudo da entidade que, naquele momento, era uma verdadeira agência de promoção de negócios e elaboração de políticas de desenvolvimento. A entidade era o braço privado da governança estadual, ajudando a formular alternativas de crescimento do que havia restado da débâcle na economia da Amazônia Ocidental e especialmente do Estado do Amazonas.
Marcados positivamente com a formação salesiana, figuras públicas como Aderson Dutra, Moyses Israel, José Bernardino Lindoso, Ruy Lins, Samuel Benchimol, Agnello Uchôa Bittencourt, Wilson Zuany, Alexandre Pimenta, Silvério José Nery e Arthur Pucu, entre tantos líderes e visionários, como Antônio de Andrade Simões, com quem Petronio se associou nos meados dos anos 60, influenciaram decididamente o código de valores e posturas desses heróis de nossa resistência. Os princípios éticos e espirituais da pedagogia de Dom Bosco, como relembra Arnaldo Santos, um destacado colaborador das empresas criadas por Petronio e Antônio Simões, eram um bom caminho sem volta.
Categoria, uma amizade preciosa
E uma das belas histórias de cumplicidade fraterna, que se ensaiou desde os tempos inesquecíveis de Colégio Dom Bosco, foi a relação de Petronio Augusto Pinheiro com José Ribamar Bentes Siqueira, uma amizade que se revelou profícua e permanente. Petronio nascera 13 meses antes do amigo, mas suas experiências, valores, percepções e objetivos eram gêmeos ou complementares em diversos setores e momentos de suas respectivas trajetórias. Chegaram juntos ao primeiro emprego na Associação Comercial, que Siqueira costumava chamar de Ministério do Desenvolvimento, e de lá à Companhia Nacional de Borracha, onde cursaram, entre as pelas de borracha, beneficiadas para exportação através de lâminas crepadas, conforme o padrão estabelecido pelos clientes internacionais, um doutorado informal de Amazônia, de como perseguir um novo paradigma de desenvolvimento, a partir da agregação de valor dos produtos da floresta, pela inovação tecnológica e pesquisa científica. Cosme era um visionário e influenciou fortemente toda sua geração, particularmente aqueles dois pupilos.
De tão devotado aos debates das coisas da floresta, Petronio passou a ser conhecido e lembrado por sua obsessão amazônica, compromisso com sua gente, e defensor de um novo modelo de desenvolvimento. Eram os frutos e lições para o cotidiano, colhidos nas aulas dessa pós-graduação informal. O colega Siqueira, graças ao conhecimento com empresários americanos, no pós-guerra, tece a oportunidade de freqüentar a Universidade da Califórnia, depois um curso de pós-graduação em Michigan, nos Estados Unidos, em Ciências Humanas, o que lhe permitiu estudar os tipos humanos e compreender melhor o fator humano e o tecido social onde estava inserido. Isso lhe custou um convite de Cosme Ferreira, que era primo de sua avó paterna, para assessorar grupos de Estudos na Academia Amazonense de Letras, onde o empresário tinha assento. Mais tarde, por toda essa bagagem de informação, a presidência da República, nos anos 1984, convidou Siqueira e Petronio para assessorarem os estudos que dariam base a uma política florestal e ambiental para a Amazônia. Eles ficaram 30 dias na condição de consultores convidados para imprimir e assegurar o ponto de vista dos “nativos” na formulação de programas e projetos para a região amazônica. É importante lembrar que Siqueira foi contratado pelo Conselho de Segurança Nacional, por três anos, para assessorar planos macros de ocupação/integração da Amazônia ao contexto geopolítico nacional.
APOSTA NA ECONOMIA REGIONAL
Os barcos de pesca
Nem só de borracha vivia a fartura da região do rio Juruá. Os irmãos Alfredo e Petronio tinham vasta experiência em alternativas de negócios e um deles era a pesca. Por isso, montaram uma frota de barcos de pesca, com o propósito de abastecer o mercado de Manaus. Começando com o Caapiranga, o Pirandirá, o Albatroz, o Canamari e finalmente, com estrutura mais moderna, o Ana Maria, os irmãos Pinheiro aprimoraram sobremaneira o processo de resfriamento e armazenamento do pescado. O Ana Maria era equipado com um moderno propulsor MWM alemão de 120 Hp, possuía 12 câmaras frias que recebiam o pescado e gelo em escama (processado no próprio barco ), evitando assim que as barras de gelo fossem quebradas sobre o pescado, diminuindo sua qualidade e durabilidade. Vale ressaltar que estas câmaras frias eram alocadas seis de cada lado e permitiam que os pescadores gelassem os peixes, sem precisar entrar nas geleiras, o que era mais saudável e algo inédito no Amazonas.
Pecuária bubalina – as Fazendas Manacá, Bela Vista e Carabao
Em 1960, Alfredo e Petronio permutaram com os padres salesianos animais bovinos por bubalinos que os religiosos haviam recebido de presente de um criador do Estado do Pará. Contam os religiosos que, por desconhecer o manejo dos bubalinos, os vaqueiros se recusavam em lidar com a espécie. Petronio, que nutria o sonho de ser pecuarista desde jovem, foi atrás de conhecimento e qualificação. Buscou na literatura, participou de feiras agropecuárias, exposições e de tudo que pudesse lhe propiciar informações sobre a raça bubalina, que era tida como a “pérola negra” de outras regiões da Amazônia, notadamente no Estado do Pará, na Ilha de Marajó. Os animais foram introduzidos na Fazenda Manacá, localizada na boca de cima do Lago do Aleixo. Lá o rebanho experimentou crescimento e produtividade excepcionais, determinando a venda de todo o plantel de bovinos para investimento em novas matrizes bubalinas. Mais adiante, foi necessária a compra de uma propriedade na costa do Varre Vento, no município de Itacoatiara. A fazenda Bela Vista foi fundamental para a consolidação do rebanho, pois a Fazenda Manacá já não comportava todo o rebanho. Com a grande cheia de 1989, foi novamente necessária aquisição de uma propriedade na comunidade do Novo Remanso, também em Itacoatiara. Mesmo com o investimento em pastagem e em ração para os búfalos, ainda assim morreram 66 animais devido à cheia e a uma rigorosa estiagem. Apesar deste revés o crescimento do rebanho era notável, o que permitiu agregar novas propriedades, como a Fazenda Carabao, onde Petronio investiu em melhoramento genético através da compra de 26 matrizes de linhagem leiteira dos irmãos Pedro e Jorge Machado Freire, de Santarém-PA. Como fruto desta dedicação ao búfalo, em 2006, a senhora Iclé Barauna Pinheiro foi eleita Pecuarista do Ano e a Fazenda Carabao tornou-se referência em termos de melhoramento genético e fabricação de laticínios, contribuindo para a formação acadêmica de alunos dos cursos de medicina veterinária e agronomia de universidades locais.
Cerâmica Taquara
Um dos projetos mais acariciados de Petronio Augusto Pinheiro foi a construção da Cerâmica Taquara, um sonho desse empreendedor que alimentava a decisão obstinada de produzir artefatos cerâmicos a partir dos insumos locais, sem depender de incentivos fiscais, operacionais, ou quaisquer outras regalias tributárias, como seus antepassados fizeram no ciclo gomífero. Tudo começou após uma reunião na Associação Comercial, da qual Siqueira e Petronio ainda eram membros. Eles costumavam jantar após a reunião semanal no restaurante Florestal, que funciona nas proximidades do Reservatório do Mocó, no bairro de Adrianópolis. Conforme relata Siqueira, o projeto visava retomar em outros moldes uma cerâmica construída pelos ingleses no século XIX, que abasteceu a construção de Manaus, no glamour do Ciclo da Borracha. Era a empresa Amazonas Engineering que ficava nas proximidades das lajes, na Colônia Antônio Aleixo.
Petronio possuía um terreno localizado na margem esquerda do Rio Amazonas, no Lago do Aleixo. Ali existia a melhor qualidade de argila, de toda a região, segundo estudos atestados e encomendados junto à Universidade Federal do Paraná. Em sociedade com o amigo Ribamar Siqueira arrendou um terreno da antiga cerâmica Morada, na Colônia Antonio Aleixo e lá implantaram uma moderna fábrica de telhas e tijolos produzidos com equipamentos da marca Bonfanti, indústria centenária do setor, situada em Leme, no Estado de São Paulo. O primeiro conjunto de equipamentos foi adquirido junto à Mineração Taboca, que se desfez do maquinário, pois não estava neles seu foco principal. Com o crescimento da atividade, outro conjunto de máquinas foi adquirido diretamente do fabricante paulista.
A Cerâmica Taquara dispunha de instalações, máquinas e processos industriais de última geração, como o sistema de queima de tijolos e telhas feito a partir de BPF (Baixo Poder de Fusão) e posteriormente com a utilização de pó de serragem mediante o aproveitamento de subprodutos das serrarias locais, introduzindo pioneiramente práticas ambientalmente sustentáveis. Além disso, os fornos de queima eram dotados de trilhos, fazendo com que os colaboradores não precisassem entrar no interior dos mesmos para a retirada do produto acabado. Os tijolos eram logo marcados com o nome e telefone da empresa a fim de permitir a rastreabilidade e proporcionar o contato de novos clientes com o fornecedor. Os colaboradores dispunham de um restaurante com oferta de alimentação de qualidade e de área de lazer para usufruir no período de descanso. A empresa, no auge de seu desempenho, chegou a empregar cerca de cem trabalhadores, oriundos na quase totalidade da Colônia Antonio Aleixo. Outra providência observada era o encerramento da atividade laborativa pontualmente às 17h00, a fim de permitir que os colaboradores pudessem freqüentar a escola da localidade. Todo o processo produtivo era monitorado através de CEP (Controle Estatístico de Processo) e baseado em planejamento estratégico elaborado pela diretoria e gerência da empresa.
A Cerâmica Taquara encerrou as suas atividades após oito anos de funcionamento em função da concorrência desigual, com outras indústrias localizadas no município de Iranduba-AM, que não eram obrigadas a arcar com os custos de produção inerentes a uma fábrica localizada na capital.
Associação Comercial do Amazonas, as lições decisivas
Para entender o bom desempenho de Petronio, mais tarde, a partir de 1960, na coordenação geral dos trabalhos na Federação das Indústrias, onde atuou por mais de três décadas, vale lembrar algumas ações, reivindicações e bandeiras, defendidas pelo velho mestre Cosme Ferreira, no papel do Diretor Técnico da Associação Comercial do Amazonas. Cosme, que também era parlamentar, transpirava o desafio amazônico, e mobilizava, com a participação de seus dois pupilos, Siqueira e Petronio, proposições e ações de negócios na região. Tudo o que significasse ampliar e diversificar empreendimentos passava pela Associação Comercial do Amazonas: Pleito de redução dos fretes da Amazon River para viabilizar a produção regional; Promoção do Timbó (fibra regional), como interesse comercial de exportação; Criação do Comércio do Guaraná; Pedido de redução de frete no embarque de juta e malva (recorte); Reuniões de estudo e apoio à defesa da castanha; Doação à 8ª Região Militar de castanha, destinada a introduzi-la na alimentação dos soldados; Pleitos de medidas para apoio e manutenção do transporte fluvial; Instalação de uma fábrica de beneficiamento de cereais na rua dos Andradas; Instalação de escritórios de representação no Rio, em Belém e em São Paulo; Exposições de produtos amazônicos a bordo do navio Almirante Jaceguay, em Vitória, em São Paulo e em Barcelona; Participação nas Feiras de Viena, Marselha, Baia Blanca e São Leopoldo; Pleito de instalação de um Vice-Consulado dos Estados Unidos em Manaus. Foram múltiplos os reflexos da Segunda Guerra Mundial com a invasão das forças americanas em busca de borracha. Foi construído o aeroporto de Ponta Pelada e intensificado o tráfego aéreo com diminuição da cabotagem com falta de combustíveis, trigo e outros gêneros de primeira necessidade. À época, a Associação mantinha representação em 29 cidades do interior amazônico. A Casa mantinha um serviço de assistência à agricultura. Por iniciativa de Cosme Ferreira Filho foi apresentado no Congresso projeto que criava a Estação Experimental do Guaraná, em Maués. Pelo Decreto 12.312, de 27 de abril de 1943, o Governo da República concedeu à ACA a prerrogativa de órgão consultor da União. Em 1948, a ACA realizou a Segunda Conferência Nacional da Borracha.
Extrativismo – Mitos e promessas
A economia dependia muito de produtos de cultivo artesanal usados pela indústria, como a juta e a malva. O surgimento, então, da indústria plástica para fins de embalagens foi mortal para essas fibras empregadas na sacaria dos agronegócios. Àquela altura, não restavam muitas saídas econômicas para cidades como Manaus, já com 200 mil habitantes. A situação era preocupante. A sorva, para dar alguns exemplos, matéria-prima única da goma de mascar, popularizada como chiclete, fora substituída por um derivado do petróleo, o poliisobutileno. O pau-rosa, usado na fixação de perfumes, cedeu lugar aos fixadores de laboratório e se juntou à juta e à malva, que já haviam contribuído com mais de 50% da receita do Estado e geravam milhares de empregos. Perderam mercado para o tecido de polipropileno e também devido ao aparecimento dos navios graneleiros, que prescindiam de sacarias para embalagens. O avanço tecnológico teve um lado cruel na desvalorização econômica dos produtos primários da região. Impunha-se, pois, tomar medidas urgentes para resgatar o cenário socioeconômico regional.
FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DO AMAZONAS: A DEFESA DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL (FIEAM)
É nesse contexto de luta e procura por alternativas que surge a iniciativa da implantação de uma entidade para defender os interesses dos empresários locais. Foi criada, então, a Federação das Indústrias do Estado do Amazonas, em 3 de agosto de 1960. Petronio Augusto Pinheiro assina a ata de criação da entidade e já é escolhido o 1º Secretário, aquele que seria responsável por fazer funcionar a instituição.
Naquele momento, a luta do empresariado amazonense era marcada pela defesa do desenvolvimento da indústria regional, processadora de matérias-primas regionais, com destaque para as serrarias, usinas de extração e de beneficiamento de borracha, fabricação de calçados, bebidas e panificação. O estatuto foi aprovado em 29 de maio de 1961, quando foi expedida a Carta Sindical pelo então Ministro de Estado de Negócios do Trabalho, reconhecendo como seu fundador e primeiro presidente, o empresário Abrahão Sabbá, que exerceu o mandato de uma então diretoria provisória, de agosto de 1960 até maio de 1961, ocasião em que foi eleita a 1ª Diretoria, com mandato de junho de 1961 a outubro de 1966, mantendo Petronio na mesma função executiva. Tesoureiro, representante da entidade por várias décadas junto à Confederação Nacional das Indústrias, diretor e integrante da presidência, recebendo em 1985 o Diploma do Mérito Industrial, pelos relevantes serviços prestados às causas do desenvolvimento da indústria Amazonense. Na solenidade, Petronio Pinheiro proferiu emocionante discurso, no qual recordou sua trajetória e as lições aprendidas com o mestre Cosme Filho.
Petronio atuou, com destaque, na Federação das Indústrias por quase quatro décadas, como relata o atual presidente da Instituição, Antônio Silva. Atualmente a FIEAM possui Diretoria e Conselho de Representantes, formado por dois delegados de cada Sindicato filiado e também de uma diretoria Adjunta, apresentam a seus pares da indústria nacional o jeito amazônico de empreender, gerar riqueza com responsabilidade social e ambiental. A estrutura interna da entidade, composta por profissionais multidisciplinares, dá o suporte necessário as atividades – multidisciplinares e focadas nas demandas sociais – desenvolvidas pela instituição. Integram o Sistema FIEAM as entidades SESI, Serviço Social da Indústria, SENAI, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial e IEL, Instituto Euvaldo Lodi, focado na qualificação técnica e de inovação dos trabalhadores.
SESI – parceria social e partilha familiar
O SESI, onde se estreitou a relação entre Petronio e Iclé, implantou-se no Amazonas em 1º de janeiro de 1949, com uma delegacia regional, por iniciativa do então presidente da Confederação Nacional da Indústria e diretor nacional do SESI, Euvaldo Lodi. Por cessão do então presidente da Cruz Vermelha Brasileira – Secção Amazonas, André Araújo, a delegacia instalou-se em uma das dependências da instituição, situada na Avenida Getúlio Vargas. O quadro de pessoal da recém-instalada Delegacia foi integrado pelo delegado, Francisco de Oliveira Regis, dois médicos (um clínico geral e um puericultor e pediatra), o advogado Lúcio de Siqueira Cavalcante, um dentista, quatro assistentes sociais, duas enfermeiras, um auxiliar de escritório e um zelador, que prestavam serviços aos trabalhadores da indústria local. Depois de formada em Serviço Social na Faculdade de Serviço Social do Rio Grande do Norte, foi no SESI que Iclé Baraúna atuou como assistente social, até sua transferência para a Funabem (Fundação Nacional do Bem Estar Social), em 1965, onde atuou junto à Igreja, às Forças Armadas e todas as instituições voltadas para a assistência social e promoção humana dos desassistidos do banquete social. Nessa entidade, com um trabalho destacado pela imprensa e demais parceiros da sociedade, Iclé levava sempre o apoio, a presença e os benefícios propiciados por Petronio. Lá permaneceu até se aposentar.
HISTÓRIA DO GRUPO SIMÕES – Com Simões e Pacífico, Petronio confirmou que o trabalho é capaz de vencer toda a adversidade
Antônio de Andrade Simões, assim como Petronio, era discípulo do padre Stélio Dállison e Agostinho Caballero, nos primórdios dos anos 40. Enquanto Petronio foi para a Associação Comercial e de lá para a Companhia Nacional de Borracha, Antônio Simões, aos 19 anos, iniciou sua trajetória comercial com a pequena Sorveteria Moderna, em 1943. Por necessidade e obstinação, junto ao seu pai Clemente Simões, passou a ocupar todas as funções no empreendimento, padeiro, bolacheiro e cilindreiro. “Se alguém deseja ter sucesso em algum negócio, que lhe conheça bem os segredos”, dizia. Mas foi na sorveteria, Bar Moderno, que tomou gosto por empreender os próprios negócios. Em 1962 desfez-se da sociedade e inaugurou uma moderna fábrica de massas e bolachas: a Papaguara S.A. Ele reencontrará, então, Petronio, o contemporâneo salesiano, agora como companheiro de classe nas andanças e movimentações para criar a Federação das Indústrias do Estado do Amazonas, no início dos anos 60. Daí a começar uma sociedade foi uma questão de tempo. E os negócios passaram, então, a ganhar fôlego e amplitude. Antonio Simões era presidente do Sindicato dos Panificadores do Amazonas e Petronio representava as empresas de beneficiamento de borracha. A empatia foi imediata e da confiança mútua surgiu o convite de Simões a Petronio para que ingressasse como sócio cotista na Papaguara Comercial Ltda.
Geraldo Brás, então diretor-geral do Banorte, instituição financeira que financiou vários projetos do nascente Grupo Simões, relembra um momento de intimidade fraterna e confidência com Antonio Simões: “Ter encontrado Petronio foi uma das maiores bênçãos da minha vida. Um sócio sério, fidedigno e competente”. Para os sucessores de Antonio Simões, a relação de seu pai com Petronio era de singular grau de confiança e afinidade, afirmam Juarez Simões e Renato Simões.
Em 1970, Antônio Simões e Petronio foram audaciosos, e criaram a Refrigerantes da Amazônia S.A, a primeira franquia da Coca-Cola no Norte do Brasil. Com 30 mil metros quadrados de área construída, 400 mil cruzeiros de capital, 07 caminhões, 104 funcionários e um equipamento, Crown – Cork 28.
O crescente consumo de refrigerantes e o fato de que a fábrica de gás carbônico mais próxima ficava em Belém, a 1.293 km de distância, o que demorava cinco dias de viagem, levaram os pioneiros a construir sua própria unidade de CO2 em Manaus, no ano de 1973, a Gás da Amazônia. Em 1974 deram inicio a produção e comercialização de seu próprio guaraná regional, o Tuchaua.
Sem receio de vencer os desafios que lhes eram lançados, Antonio Simões e Petronio adquiriram, em 1976, a franquia de Coca-Cola em Belém do Pará empresa que até hoje é conhecida como – COMPAR – Cia Paraense de Refrigerantes. Nesta época entrou para a sociedade o economista e contador Osmar Alves Pacífico. Filho de um legítimo soldado da borracha, o senhor Pacífico aos 11 anos já trabalhava como tipógrafo. Anos mais tarde abriu uma empresa de assessoria em projetos de implantação de indústrias na recém criada Zona Franca de Manaus. Foi quando conheceu Simões e Petronio e juntou-se a eles formando assim a sociedade que seria o alicerce para crescimento, desenvolvimento e sustentação das empresas que estavam por vir.
A solidez empresarial e o perfil moral e ético de Petronio e Simões foi o fator decisivo para a Coca-Cola os escolher como representantes regionais de suas marcas.
O sucesso dessa sociedade foi com maestria explicado pelo senhor Pacífico em 1993 durante a inauguração da Manaus Refrigerantes Ltda., a nova fabrica de Coca-Cola do Grupo Simões. Ainda nessa década, aceitando o desafio da Coca-Cola, construíram em Rio Branco-AC, a primeira mini fábrica de refrigerantes do país.
Contando com recursos da SUDAM, o Grupo Simões expandiu fortemente suas atividades no setor de refrigerantes, na década de 80. Juntos, os senhores Simões, Petronio e Pacífico deram continuidade ao plano de expansão dos negócios e a conquista de novas regiões. As dificuldades para a manutenção e implantação das Unidades foram muitas e serviram de estímulo aos seus fundadores para enfrentá-las com coragem e a determinação de quem sempre acreditou no futuro. Assim, em 1981 começaram a construir simultaneamente as fábricas de Santarém-PA a segunda fábrica na Amazônia Oriental e a de Porto Velho-RO que foi inaugurada em 1982.
Dando continuidade ao espírito desbravador, colocaram em funcionamento no ano de 1984 as fábricas de Marabá, terceira no estado do Pará e a unidade de Macapá-AP. Este ano marca, também, o início da produção e comercialização da Água Mineral Belágua. Em 1985 abriram a segunda unidade fabril do estado de Rondônia, na cidade de Cacoal-RO e em 1987 chegaram ao extremo Norte do país com a unidade de Roraima-RR. Em reconhecimento a audácia empresarial, a Coca-Cola Indústrias Ltda., conferiu ao Grupo Simões o título de FABRICANTE DA DÉCADA de 80.
Os colaboradores: Antônio Cunha, Ricardo Souza, Francisco Mendonça, Manoel Cruz, Charles Barreto, Silva Brasil, Dorian Carvalho, Iracema de Jesus, Maria de Fátima, Maria Gomes da Silva, Antônio Monteiro, Regina Abreu, Marcus Rocha, Milza Marreiro, descrevem um tipo de gestão corporativa moderna e humanizada. E destacam qualidades do patrão, chefe e amigo Petronio, que deixaram marcas na forma atenciosa de tratar a todos indistintamente.
Diversificação
A década de 80 marcou também a diversificação do Grupo, que passou a investir em outros negócios. Em 1984, assumiu o controle acionário de uma empresa de televisão em Manaus, a TV Ajuricaba, que posteriormente passou a se chamar RBN Rede Brasil Norte de Televisão. Ainda no segmento de telecomunicações, o Grupo Simões adquiriu a CEGRASA, Central de Emissoras, Gravações e Repetidoras Ajuricaba S/A, que controlava 35 repetidoras de TV em todo o interior do Amazonas. Em 1985, constitui-se a Rádio Ajuricaba Ltda., e a CPT – Central Tele-Educativa LTDA, que produzia filmes e comerciais de TV e jingles de rádio. Em 1993, o Grupo Simões sai do ramo de comunicações e para investir em outros segmentos.
Outro ramo de atividades em que o Grupo Simões investiu foi na construção civil, através da CBN, Construtora Brasil Norte LTDA. O objetivo da CBN era gerenciar a construção das fábricas e das diversas obras em andamento em toda a Amazônia. Depois de cumprir os seus objetivos, a CBN teve seu distrato social formalizado em 1995.
Primeiro Sopro de Governança e as surpresas
Em 1986 e em mais um ato de pioneirismo e visão de futuro contrataram a assessoria de Renato Bernhoeft, especialista em empresas familiares para desenhar um plano de sucessão, planejar a transmissão da herança e a proteção do patrimônio por meio da criação das holdings familiares que passariam a ser as controladoras das empresas do Grupo Simões.
Em 1990, o Grupo Simões inaugurou a sua Sede Administrativa. Criou-se um Conselho de Administração que funcionava como um órgão de decisões maiores, e que era composto, inicialmente, pelos três sócios Sr. Antônio Simões, Sr. Petronio Pinheiro e Sr. Osmar Pacífico. Nesta mesma época, também, a administração do Grupo atingiu um alto nível de profissionalismo para fazer frente à realidade dos novos tempos, foi indicado para a presidência da Diretoria Executiva o Sr. Renato de Paula Simões.
O ano de 1992 foi marcado por surpresas. Logo nos primeiros dias do ano, 13 de janeiro, falece Antônio Simões, e sua esposa Walderez de Paula Simões, assume a presidência do Conselho de Administração. Sete dias após o falecimento de Antonio Simões, Petronio sofre um importante acidente vascular cerebral e é removido com urgência para o Rio de Janeiro onde passa dois meses em recuperação no aconchegante apartamento da família Simões. As seqüelas do AVC impossibilitam Petronio de voltar ao trabalho na função executiva e assim, Iclé assume a vaga do esposo no Conselho de Administração.
Em 1993 o Grupo Simões inaugurou as novas instalações das fábricas de refrigerantes e gás carbônico em Manaus; unidades modernas construídas para atender a crescente demanda do mercado e oferecendo mais conforto e condições de trabalho aos colaboradores.
Veículos
O espírito empreendedor dos fundadores leva a segunda geração a partir para um novo desafio de diversificar os negócios e inaugura em 1994 a Murano Veículos, concessionária FIAT, que foi o marco para esta nova etapa. O ano de 1994 foi marcado também pelo falecimento do Sr. Osmar Alves Pacífico. Este ano foi marcado também, pelo início de uma grande reforma da fábrica de Belém, a COMPAR. Ao mesmo tempo iniciou-se, também, a construção da terceira unidade de CO2 do Grupo, a Gaspará, que foi inaugurada em 1995. Expandido os negócios no segmento de automóveis o Grupo Simões adquiriu , em 1998, em Belém, mais uma concessionária, a Texas Veículos, com bandeira Chrysler, Dodge e Jeep.
Com a saúde se deteriorando a cada ano em 21 de novembro de 1998, Petronio falece, fechando assim o ciclo dos Fundadores e consolidando a era da segunda geração, sempre apoiada pelas matriarcas: Walderez, Iclé e Zenilde.
Em julho de 1999 o grupo inaugurou sua terceira concessionária, a Shizen Veículos Ltda., em Manaus, com bandeira Honda. Ainda no mesmo ano inaugurou também a filial da Texas em Manaus, concessionária Chrysler, Dodge e Jeep.
Ao mesmo tempo em que abria caminhos para novos negócios, o Grupo via a necessidade de reestruturar as atividades de refrigerantes, que com o crescimento dos produtos envasados em garrafas PET provocou o fechamento de 04 unidades fabris (Cacoal, Roraima, Marabá e Santarém) que em razão de escala produtiva se transformaram em Centros de Distribuição abastecidos pelas fábricas maiores que foram modernizadas para atender a nova demanda.
Com a saída da Chrysler do mercado brasileiro o Grupo devolveu suas concessionárias de Belém e Manaus. Entretanto, neste mesmo ano, tornou-se franqueado de outra bandeira, a Ford do Brasil, que inaugurou em novembro de 2002 a Monttana Veículos, em Manaus.
Integridade, Transparência, Lealdade, Respeito e Disciplina – a continuidade
A chegada do século trouxe novos questionamentos as famílias Simões, Pinheiro e Pacífico. A segunda geração havia herdado uma sociedade de seus pais sem ter tido a oportunidade de se escolherem para continuar o legado deixado por eles e assim, com o mesmo espírito arrojado e visionário do passado, contrataram a consultoria de Werner Bornholdt para auxiliá-los a formular um Acordo Societário envolvendo as matriarcas, os acionistas, os herdeiros e os conjugues. Foram dois anos de trabalhos, workshops, reuniões e palestras até a assinatura do acordo. Como resultado, foi criado um novo conselho de administração formado por Renato Simões (presidente), Juarez Simôes, Antonio Silva e Petronio Pinheiro Filho além de 3 conselheiros independentes. Para ocupar o lugar de Renato na presidência da diretoria executiva foi escolhido o diretor Aristarco Neto com mais de 20 anos de trabalho na Organização. Criou-se o Conselho de Família que atua diretamente na harmonia da família voltada para o crescimento da empresa e fortalecimento da sociedade. O Grupo decidiu adotar o modelo de governança corporativa ditado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa –IBGC.
O Grupo Simões, como empresa familiar, gera cerca de cinco mil empregos, atende a mais de 70 mil pontos de venda em toda Região Norte e atua nos segmentos de bebidas, veículos e gases industriais. Recentemente foi constituída a Diretoria de Novos Negócios com objetivo de ampliar o portfólio de negócios como foco nas oportunidades regionais de modo ambientalmente sustentável.