A Nova Batalha da Borracha
O sonho de Cosme e Petronio, que está materializado na plantação de seringueiras e castanheiras na Zona Leste de Manaus, testemunhando a teimosia, a obstinação de anos a fio de luta e enfrentamento de adversidades, começa a ser retomado. O ano de 2011 encerrou com 1,5 mil toneladas e a empresa que se instala no polo industrial de Manaus vai demandar 3 mil para atender a produção de pneus para motos e bicicletas. Foi decisivo assegurar junto à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) o preço mínimo de R$ 3/kg, que dobrou este ano e já alcança R$5,5/kg para as mais de 2 mil famílias de novos seringueiros com o DNA cearense e adjacências nordestinas de uma batalha que não acabou. O INPA hoje entende tudo de agroindústria no bioma tropical e tem todas as condições para dar suporte ao cultivo racional de seringueiras. O papel do conhecimento é fator e requisito de mudança significativa no conceito e exercício do poder. E no caso da Amazônia, conhecimento não é apenas mais um recurso, ao lado dos tradicionais fatores de produção: trabalho, capital e terra, mas sim o maior recurso, a única possibilidade da mudança em seu paradigma de desenvolvimento na sustentabilidade e prosperidade de seus bio-negócios; como prenunciava Petronio Augusto Pinheiro, o decano da Universidade do Juruá, ou nas reuniões do café de domingo nas dependências de sua célebre residência da Rua Paraíba, no bairro daVila Municipal Operária, aonde reunia os amigos Epaminondas Barahúna, Ribamar Siqueira, Alípio e Ambrósio Assayag para discutir os problemas da Amazônia e as visões de futuro.
Se Petronio previu o esvaziamento da Zona Franca por não investir na industrialização dos produtos do extrativismo, a economia do século XXI está mostrando que o melhor caminho para cuidar da floresta é dela extrair racionalmente seus frutos. Cultura de grãos nas várzeas,juta e malva,pecuária bubalina, guaraná, castanhae borracha, especialmente a heveicultura. “Temos tudo para superar em qualidade e produtividade as plantações da Hevea brasiliensis na Malásia”, dizia Cosme Ferreira.
O grito de alerta de Cosme e Petronio Augusto ecoam na ante-sala do novo milênio. É possível promover a renascença do látex, com determinação e estudos, diz Muni Lourenço, da federação da Agricultura, ao lado de Pedro Falabella na Afeam, e sua poronga de led, Valdelino Cavalcante, da Agência de Desenvolvimento Sustentável, além da curiosidade e excitação de alguns setores da academia, as bênçãos da Santa Aliança, a reunião das entidades do setor produtivo, que até mudou de nome e agora se chama Ação Empresarial, para sinalizar a vontade política e determinação efetiva de fazer.
Resgatar, portanto, a saga de Petronio Pinheiro é revisitar o fausto que o Amazonas experimentou na economia do látex e por razões diversas deixou escapar há um século. É percorrer os longos anos de estagnação econômica e adversidades sociais, interrompidas com os ensaios de recuperação econômica do II Ciclo da Borracha, impostos circunstancialmente pelas demandas da II Guerra Mundial. Essa trajetória desembarca na economia do modelo Zona Franca e descreve parcerias, avanços e visões que o carisma de Petronio Pinheiro consolidou.
“A Amazônia continua em busca de sua vocação, e continuará, ainda por muito tempo nessa tentativa de descobrir o seu destino no coração escondido de suas terras, de seus rios e florestas. Porém agora com o auxílio de uma abrangente consciência política nacional, o que tem ajudado na integração ao país brasileiro, como parte que é, inalienável, de sua grandeza”. Samuel Benchimol.